quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Dia 2 - 24 de Agosto 2009 
Peninsula de Chucuito - Povoado de Karina

O dia amanheceu com o sol invadindo a janela do quarto e iluminando o Titicaca. Durante a noite a geada cai forte, acredito que a temperatura foi de uns -3º C, um frio danado, a cama tinha uns 6 cobertores tecidos a mão, a noite foi reconfortante, dormi muito fundo como se estivesse a beira mar.
Impressionante como o lago e a natureza controla a vida destas pessoas, nós não vivemos mais assim.




Se os patos colocam ovos na beira do lago, vai ter seca, ovos colocados longe das margens significa que vai ser un ano com chuvas, quem de nós percebe isto?




Eles tem mais de 300 tipos de batatas, uma variedade
bem pequena é colocada na geada por 2 noites, depois seca ao sol por 3 dias, elas duram até 3 anos.
Hora do café da manhã - 7 horas - arroz, ovos, batata, mate de coca, panqueca que quinua ( que só pode ser comida até o meio dia), geléia e nescafé, pq a esta altura eu estou louca pelo café do Alexandre, como o café aqui é fraco, tem gosto de chá.



A familia se arruma e me convida a ir até o Centro Comunitário do povoado onde algumas senhoras me esperam para me mostrar e ensinar o trico da região, estou ansiosa por este momento, ainda não vi o que elas tecem.

Podem acreditar no que estão vendo, juro que não foi armado!
Começamos dentro da sala mas o frio estava demais entao fomos para o chão do lado de fora, tudo forrado com palha de cereais, o vento vai depositando esta palha em toda a região, ela tem o chão amarelo. A idéia é de compartilhar experiencias então mostro algumas bobagens que levei pra usar, cachecois, luvas e o maltese, elas nunca viram um chullo como o maltese, ficam encantadas e querem aprender como eu faço isso. Quando abri um porta agulhas, juro que só com algumas poucas, elas ficaram em delirio, no povoado é complicado compra-las. O kit Denise vcs podem imaginar, queriam pegar, usar, tocar, não imaginavam que pudesse existir uma agulha circular que nao prenda.
Elas tecem animais para os dedos, como se fosse marionetes, eles usam pra contar histórias para as crianças e também como moeda de troca na feira local, como o dinheiro é dificil entao aos domingos as mulheres vão para o mercado onde trocam seus trabalhos por alimentos, fios e outras coisas. Elas tem carneiros, que são os animais de estimação, como os nossos cães ou gatos, servem pra dar a lã e acredito que algum leite,  pq como a região é muito seca não existem vacas neste povoado, tem poucos porcos, galinhas pra ovos e consumo e só isto.
Chega a hora do almoço, meio dia, descemos do Centro Comunitário e vamos para a casa da Dona Juana, 5 senhoras da comunidade são convidadas para o almoço, mas só 3 se sentam a mesa e nao me pergunte o pq! Coisa da hierarquia eu acho, ela nos espera com uma sopa com frango e quinua, deliciosaaaaaaaaaaaaaaaa, tomei 2 pratos, como prato principal - arroz, batata e peixe, a comida tem outro sabor, ou tem sabor de comida, tudo é plantado aqui e nao tem quimica ou irrigação, quem manda no ciclo de agricultura é a constelação a llama, qdo ela aparece se planta, qdo ela some no céu a terra descansa. Respeito aos ciclos naturais da terra, vivem de acordo com a natureza, nao destroem a sua terra, fonte de vida e energia.

O almoço segue com um monte de risadas, acho que de mim, devem achar que somos tão exóticos quanto os achamos.
Sou convidada a ir até um mirante para continuar com o tricot, ele fica atraz da casa, uma subida terrivel pra quem esta sofrendo de mal de altura, me arrasto morro acima e levo um susto, tinha uma lona pra nos proteger do sol e chão forrado e um banco pra eu sentar, me dei conta de como a minha visita era importante, eu não deveria me sentar no chão, mas imagina fui direto pro chão.


A tarde foi passando e fui tentando conversar com elas, uma complicação, começam em castellano e terminam em quechua, ai complica tudo e não entendo nada, temos que começar a conversa novamente.

As crianças vão chegando da escola e se juntando ao grupo, uma das meninas nunca tinha visto unha pintada, pegou a minha mão e ficou passando os dedos sobre as minhas unhas,  ela estava maravilhada com as unhas pintadas, que era aquilo? A tarde vai passando, a temperatura vai caindo, o vento dos Andes chega implacavel e gelado, o jeito é recolher tudo e ir pra casa, esta noie vai ter um festa, que eles chamam de carnaval, sou avisada que vou vestir um pollera, roupa tipica, fico imaginando como vou ficar. A vida aqui é regrada, escureceu hora de jantar - sopa de frango, arroz, batata, ovo e mate de coca, hj estamos sem luz, ninguem sabe quando vai voltar, me contam como é comum acontecer isto, até parece que estamos em São Paulo! Janto na cozinha da casa, esta frio, muito frio, o fogão a lenha me vai me esquentando. Finalmente a luz volta e vamos a fiesta. sou paramentada com direito a chapéu e um filho nas costas, fiz questao do filho. Uma fogueira é acessa no patio interno da casa, o pai pega um tambor enorme, um dos filhos uma flauta andina e começam a tocar um música lenta, repetitiva, cadenciada, quase um mantra, as mulheres dançam em volta de fogueira com passos e gestos ritimados e lá vou eu pra dança.
Vestida cheia de roupas e saias com meu filho nas costas acho que ter vontade de usar el bano, complicação a vista, eu nao tinha lanterna e nem idéia de como iria usar el bano com tanta roupa, tacaram-me uma vela na mão e lá fui eu tentar. Dei meia dúzia de passos fora da  casa escorreguei nos pedregulhos e da-lhe chão com direito a pé torcido, uma dor terrivel, penso que me ferrei, me ajeito, respiro e levanto para ir até el bano, sei lá como consegui usar a casinha, volto e notam que estou sem o meu filho, tadinho se perdeu na queda, um dos filhos foi procurar a criança. O pé doia muito, mas tinha uma festa pra mim, então o jeito era dançar, fui
ao quarto peguei uma faixa elastica e tasquei no tornozelo, um anti inflamatório e vamos bailar. Este momento foi crucial, com dor, sem médico, sozinha, o jeito era nao pensar, que vontade de ligar pra casa ou ter alguem comigo! me senti sozinha tinha que me controlar. Dancei em volta da fogueira e me senti num ritual primitivo de alguma forma aquela dança era meio ritual, eles chamam de carnaval, mas acho que fui enrolada, me senti conectada com os deuses andinos, a dor passou. Hora de ir pra cama, afinal é tarde, acho que 9 da noite, amanhã cedo vou pra Taquile. 

Quem quiser ver o filme - As imagens da brincadeira estão no link abaixo

que venha aqui em casa, nem imagino como se coloca aqui.

7 comentários:

Mariângela disse...

Que linda!!!!!!!!!!!!!!!!!
Vc ficou muito bem em traje tipico!

andrea disse...

oi Rubia
achei que vc fosse viajar em 22 de setembro. confesso que não estava muito animada com sua viagem, mas vendo as fotos, lindas,fiquei muito comovida! tenho certeza que esta viagem será tudo o que vc esperava e mais. Que Deus te abençõe nesta tua aventura. um grande beijo, andrea

andrea disse...

oi Rubia
achei que vc fosse viajar em 22 de setembro. confesso que não estava muito animada com sua viagem, mas vendo as fotos, lindas,fiquei muito comovida! tenho certeza que esta viagem será tudo o que vc esperava e mais. Que Deus te abençõe nesta tua aventura. um grande beijo, andrea

sandra santos disse...

Eu também quero uma viagem assim......enquanto não posso assisto ao odisseia!!!!!!!! hehehehe
beijocas portuguesas

Norimar disse...

Rubia, os relatos de sua viagem são emocionantes. Dá uma vontadinha de também fazer este passeio. Ao mesmo tempo que nos leva a conhecer lugares novos, novos costumes, pessoas, somos levados a refletir sobre nossa vida, comparar costumes e enxergar o mundo dos outros olhos e ainda agradecer, agradecer muito e valorizar o que temos. Abraços
Norimar

Alina disse...

Amiga, você ficou uma fofura com essa roupa. :-))))
Mas e aí : acharam seu filho?
Mal posso esperar para ver a postagem de amanhã...beijocas!

trichegege disse...

Vc ficou muito charmosa com os trajes da terra.