sábado, 12 de setembro de 2009

Dia 4 - 26 de Agosto 2009
Ilha de Taquile - Titicaca 

7 horas da manhã - hora de despertar, que normalmente seria uma tortura aqui se torna normal, afinal durmo no máximo às 9 da noite, totalmente vencida pelo cansaço.  Almoçamos o café da manhã e descemos a respiração fica ofegante, descer ainda é fácil a grande confusão é qdo tenho que subir. 
Vou ter uma demonstração dos alimentos ali produzidos e de como eles processam a lã, incluindo, morram de inveja, tingimento natural.
Tudo super arrumado, preparado para me receber, me sinto uma rainha, com direito a 1 mulher fiando, 1 tecendo em tear, barracas com produtos artesanais para venda, o Sr. Alípio e seu sogro Sr. Isidoro ( mestre de tricot na escola local), produtos agrícolas, moinho de pedra, plantas locais, que mais eu poderia querer neste momento.
 
Eles lavam a lã de carneiro ou alpaca com um cacto que cresce por toda a ilha, ele é moído em um moinho de pedra, adiciona água fria coloca a lã e chacoalha, não é que a danada fica limpa, sem o fedor do carneiro e com a lanolina, é um sabão natural, usam também nas roupas, corpo, adoreiiiiiiiiiiiiii. 
O tingimento é feito com plantas, moída ou ralada, água quente, ferve por uns 30 minutos e pronto, o tingimento acabou, o interessante é que de fato funciona, tem solidez ao sol, e a lavagem, tenho uns chullos que estão comigo há uns 15 anos, já lavei varias vezes e a cor continua a mesma. Um aprendizado muito legal, mas que não é viável por aqui - imagina sair catando planta na cidade, ou 
 plantar no apto! Acabo arrumando uma confusão tão grande com o marido que já teve uma parte do apartamento invadida com as minhas poucas coisinhas
Estou agitada animada, compro uns chullos tradicionais, bem caros se comparados a outros, mas são para referencia, tenho que olhar o direito e o avesso pra poder me lembrar do que o Sr Isidoro foi me falando, os desenhos são lindos e bem coloridos, mas tem uma delicadeza complicada de entender, só mesmo tecendo uma vida pra conseguir este equilíbrio. É impressionante ver os homens tecendo e conversando, o fio fica no pescoço, uma cor de cada lado, não tencionam com a mão, ele fica solto e o cara vai tricotando os desenhos, as vezes mais de um na mesma carreira, me coloquei uma meta pra este ano, vou treinar as minhas mãos e aprender a tecer jackard direito, o estimulo já foi dado, agora é treino.
 Meio dia – pontualmente a hora do almoço, hj temos truta, arroz e batata, além da sopa, eu adoro sopa, qdo criança na casa da minha avó tinha sopa no almoço e no jantar, todos os dias, me reconforta. Depois do almoço um descanso merecido, do lado de fora da casa rodeada por kantutas coloridas olhando o lago, coisa boa, a digestão fica fácil e feliz.
O tempo passa vagarosamente, o ar é diferente, frio, leve e sem cheiro. Não existe barulho é como se fosse possível ouvir o silencio. Ficar olhando e ver o céu refletido no azul do lago, às vezes um burro urra, uma sensação de paz vai invadindo a alma é um prazer imenso poder desfrutar esta experiência, ela é olfativa, visual, sensorial, mas principalmente espiritual.
 
Hora de subir um apu ( montanha ), aqui elas são sagradas, vamos para um bem alto, umas 5 ou 6 pessoas, elas vão caminhando bem rápido e a subida é bem íngreme e claro cheia de pedras, uma caminhada de uns 40 minutos pra mim, chego morta... nos sentamos em umas pedras bem na beirada do morro, olha ai o medo de cair, meu lugar é ao lado do mestre que vai me ditando o que devo tecer, tecem pelo lado do avesso, tudo em tricô, sempre com 5 agulhas, muito finas, diferente das nossas, um lado com ponta de crochê o outro com ponta de tricot, tentei comprar mas não consegui, vou pegar umas de tunisiano e transformar, quero tentar com elas, o Isidoro jura que fica muito mais fácil. Como ele está acostumado a ensinar crianças não tenho problema em fazer o que ele pede, ele dita e eu faço, sem complicação, claro que o avesso bem feito é tão importante como o direito, uma questão de orgulho saber tricotar com perfeição.
Uma foto do Sr Isidoro e suas agulhas, ele tem orgulho do seu oficio, da sua nacionalidade, das tradições do seu povo e principalmente da sua família, isso me faz pensar somos tão      “civilizados“ e os nossos valores fundamentais? Como andam? A simplicidade em querer uma casa de adobe num monte super alto, onde vc tem que subir a pé numa altitude de 4 mil metros, num clima onde o vento dos Andes começa as 5 da tarde e ai tudo gela, onde a água é carregada, sem aquecimento, a eletricidade é gerada por painéis solares, é tão menos conforto do que temos e me parece que são muito mais equilibrados e tranqüilos. Será que nos somos mesmo tão civilizados? Que somos mais felizes por abrir a torneira e a água sair quente? O Alípio é o alcaide rural de Taquile, o mandato é de um ano, elenão recebe salário por isto, controla a agricultura da ilha e por isso recebe na colheita 1 kilo de alimento de cada morador, para ele é um privilegio ser o alcaide, penso que eu fugiria deste cargo achando que só me traria trabalho e transtorno.


Ai esta o pq desta viagem, refletir sobre a vida, redefinir valores, sentimentos, emoções, alguma coisa a resgatar... De alguma maneira eu senti que precisava estar aqui, embora o momento não fosse o ideal, mas acertei na decisão, eu estava precisando muito desta vivencia.
 ABAIXO UM LINK QUE FALA SOBRE OS TECIDOS DE TAQUILE


ILHA DE TAQUILE - TEAR E TRICOT  

O dia vai pasando e tenho que ir embora, a lancha tem hora certa pra sair. 


Vai chegando a hora de voltar a Puno, tomar um banho, coisa que nao faço tem 4 dias, à noite a guia Ana vai me pegar no hotel e levar pra buscar as meninas no aeroporto de Juliaca, 1 hora de carro, o cair da tarde mostra que a noite vai ser bem fria, a viagem se São Paulo até Puno é muito cansativa, horas em Lima esperando a hora de embarcar. 
Sinto ter que ir embora, ficaria por aqui mais um tempo, ando precisando da paz que encontrei. 
3 horas na lancha e vamos chegando a Puno, totora por todo lado, aqui o lago é poluido, mas não deixa de ser belo.
8 da noite - banho tomado, cabeça lavada, perfume, casaco amarelo contra o frio ( a pati detesta este casaco) estou ansiosa com a chegada, elas não saem nunca, aqui se abre mala toda hora, tem alguma coisa de terrorismo voltando então a revista é bem rigorosa. Finalmente elas aparecem, cansadas e felizes, abraço a pati como se não a visse há muito tempo.
Esta noite vamos fazer uma oferenda a Pacha Mama e ler folhas de coca.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Dia 3 - 25 de Agosto 2009
Peninsula de Chucuito - Do Povoado de Karina para Taquile ( no meio do Titicaca )



A noite foi longa e gelada, meu pé doi, esta latejando. Em uma hora qq da manha alguem entra en mi hospedaje acende a luz e fala alguma coisa, nao entendi nada, pedi para descansar mais um pouco, tinhamos um passeio de barco programado até uma pedra que tem um portal, eu só tenho vontade de dormir. Mais tarde um pouco



- 7 horas da manhã  - entram novamente e acendem a luz, aqui funciona assim, eles vão entrando sem bater, acho estranho tanta agitaçao e me levanto, pedindo pra voltar pra cama, mas nao tem jeito, almoço meu café da manhã e aviso que nao quero ir fazer o passeio, ai fico sabendo o pq da agitaçao na casa, durante a noite a irma da dona Juana faleceu, todo mundo agitado, o pai foi ver os preparativos para o funeral, hj é o dia em que vou pra Taquile, que constrangimento, alguem da familia teria que me levar pra tomar a lancha, fico pensando o que vou fazer, resolvo avisar que podem pedir pra outra pessoa me levar até o ponto de encontro, desde que ela saiba onde é nao tem problema, foi o que eu imaginei

- 8 horas da manhã -  dou pesames coloco a mochila nas costas, bolsa a tiracolo, pareço uma mula, mas como é só descida tudo fica mais facil. Depois de uma caminhada de uns 2km chegamos no embarcadeiro, o rapaz ( 15 anos talvez ) que me acompanha pega o barco, encosta e me ajuda a subir, da-lhe a remar no meio do lago e eu me sentindo no meio do nada... talvez 40 minutos a 1 hora depois ele para e se senta, pergunto - cade o cais onde vou pegar a lancha?



O cais não existe - vou mudar do barco para a lancha no meio do lago. 

O que me restou foi uma respiração profunda.

- 2 horas depois - as lanchas começam a passar mas nenhuma para, começo a ficar mais preocupada, tenho sede, o pé continua a doer, mas o jeito é esperar.

- 1 hora depois - já senti a temperatura do lago, vi patos nadando e um monte de lanchas passando, o menino me olha e diz que acha que a lancha nao vai chegar, momento de completo pavor, ali no meio do nada, a familia nao iria estar em casa, eu nao tinha como voltar.

Parei, respirei, pensei na tela azul do pc, ou na tela azul da vida ( crash ) olhei pro fundo do barco procurando alguma coisa com que eu pudesse sinalizar, perguntei se havia uma policia no lago, nao havia esta possibilidade, o único recurso eram 2 pedaços de pau e um trapo vermelho, nao tenho dúvida e nem outra opção, pego um pau amarrro o trapo, pego o outro, levanto no barco, morrendo de medo de cair, começo a sinalizar com os braços levantados, as lanchas continuam passando sem parar, grito para as lanchas que fui esquecida, help me, rescue, nada adianta, estou com muito medo sem saber o que fazer se alguem não resolver parar, o celular nao funciona, nao tem fone no povoado, nao tem taxi. 


Continuo a agitar os braços, uma lancha diminui a velocidade e para, explico rapidamente que fui esquecida no lago e que minha embarcação não chegou, jogo a mochila, a bolsa e dou um jeito rápido de entrar na lancha, antes que resolvam me deixar por ali, quem me atende pede que eu fique sentada e calma. A lancha finalmente parte, estou querendo matar quem acertou o ponto de encontro! 
Como deixam uma pessoa no meio do lago, quem fez este acerto foi a agência www.capachica.com. que diga-se de passagem até hj nao responde aos meus mails, estou esperando até segunda - feira e vou fazer uma reclamação formal ao promperu. 
Já perdi a noção do tempo, tenho mais 3 horas na lancha até a ilha. Finalmente avistamos a ilha, podemos chegar por 2 lados, o porto principal onde só temos que subir 530 degraus, bem altos, e pelo outro porto, onde em vez de degraus temos uma rampa sem fim, sei o nome de quem devo encontrar, Alipio - alcaide rural da ilha, não deve ser complicado. O capitão me fala pra ir até a praça central e pedir informação, deve ser fácil encontra-lo.
A lancha atraca e creiam que o desembarque é feito com os passageiros passando por cima dos barcos já atracados, uma coisa um tanto confusa e perigosa. Consigo passar por esta prova de de sobe e desce em barco atracado, eles se movimentam e os passageiros e tripulação vão tentando ajudar uns aos outros, meu medo ainda nao passou totalmente, a irritação continua. Dou uma olhada em volta, tipo reconhecimento do local da guerra, vejo uma cabine que vende os tickets de entrada na ilha é ai mesmo que eu vou parar e ver se localizo o Alipio, foi mole, perguntei por ele e expliquei o que havia acontecido, imediatamente um senhor saca um Nextel e o chama. Todas as embarcaçoes já haviam chegado e o Alipio tb estava apavorado pq eu não fui encontrada no local onde deveria estar, ele pede que eu vá até a praça central, estou numa altitude de 4 mil metros, tenho que subir muito até a praça, olho pra mochila ela olha pra mim ... falo com o senhor que não tenho condições de subir com a minha tralha pessoal, uma vergonha alguem que não consegue carregar a sua pp bagagem, sempre achei isto horrivel, mas não tem jeito, nem tento. Sou orientada a deixar a mochila que depois alguem vem pegar. Impressionante como esta atitude mudou o meu estado de espirito, me senti protegida, que o pesadelo tinha acabado. 
Da-lhe subir, a respiração falta, o coraçao dispara, paro descanso continuo a subida, não existia na minha cabeça a possibilidade de não conseguir, turistas que desembarcaram comigo perguntam como estou e quem vou encontrar, a subida segue ingrata e ingreme. 
Derrepente vejo um homem pequeno, magro vestido de negro, ele fala com turistas que apontam pra mim, era o Alipio, me senti salva!
Ele chega dizendo como ficou preocupado qdo eu nao apareci no porto principal, já tinha ligado pra agência e eles nao sabiam de mim. Ele pede que eu descanse e vai buscar a minha mochila, vai correndo e volta correndo, eta pulmão de aço! a subida continua, eu peço coca pra mascar, mas ela não me ajuda muito, o cansaço ta enorme... lembrei de uma planta de um guia me deu em outra viagem ao Peru, nao sei o nome, descrevi pra ele, é a munha que ele olha em volta e vem com um punhado, ela abre a respiração, continuamos andando. Naquele momento eu achei que a caminhada não iria ter fim, ai que vontade de uma mula. Ele abre um portão de pedras ou seja um montinho de pedras empilhadas, passamos e chegamos na sua hospedaria. 
Eu fui direto pra cama, tinha que descansar. 
Pouco tempo depois me chamaram, hora do almoço, que sensação boa, comida pra reconfortar a alma, agua, mate de coca, tudo o que eu queria naquele momento. A hospedagem é o paraiso, um lugar lindo, florido, organizado, aqui tem até banheiros com vaso sanitário de louça e pia com agua corrente pra lavar as mãos. Eles tem hospedagem pra 20 pessoas, tudo muito legal e a comida é ótima - 20 soles por dia - 14 reais. A tarde durmo um pouco, acordo e vou pra fora tomar sol, turistas italianos passam voltando de um passeio, já é hora do jantar. O dia vai caindo e o lago escurecendo, estou bem agora, a familia é muito legal, sentam a mesa, só os homens, um toca flauta andina no jantar, a mágica voltou, amanhã o programa é passar o dia aprendendo a tecer, tingir e fiar, estou animada, aqui só os homens podem fazer tricot, aprendem na escola a partir dos 8 anos de idade, eles convesam, andam fazendo tricot e é claro que pra deixar a gente morrendo de inveja com desenhos. Uma curiosidade - a agulha de uma lado é de crochet a outra ponta de trico, tecem tudo com 5 agulhas finissimas acho que 1,5 mm. 

Uma estória pra contar pros meus netos, O Resgate no Titicaca    
amanhã tem mais

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Dia 2 - 24 de Agosto 2009 
Peninsula de Chucuito - Povoado de Karina

O dia amanheceu com o sol invadindo a janela do quarto e iluminando o Titicaca. Durante a noite a geada cai forte, acredito que a temperatura foi de uns -3º C, um frio danado, a cama tinha uns 6 cobertores tecidos a mão, a noite foi reconfortante, dormi muito fundo como se estivesse a beira mar.
Impressionante como o lago e a natureza controla a vida destas pessoas, nós não vivemos mais assim.




Se os patos colocam ovos na beira do lago, vai ter seca, ovos colocados longe das margens significa que vai ser un ano com chuvas, quem de nós percebe isto?




Eles tem mais de 300 tipos de batatas, uma variedade
bem pequena é colocada na geada por 2 noites, depois seca ao sol por 3 dias, elas duram até 3 anos.
Hora do café da manhã - 7 horas - arroz, ovos, batata, mate de coca, panqueca que quinua ( que só pode ser comida até o meio dia), geléia e nescafé, pq a esta altura eu estou louca pelo café do Alexandre, como o café aqui é fraco, tem gosto de chá.



A familia se arruma e me convida a ir até o Centro Comunitário do povoado onde algumas senhoras me esperam para me mostrar e ensinar o trico da região, estou ansiosa por este momento, ainda não vi o que elas tecem.

Podem acreditar no que estão vendo, juro que não foi armado!
Começamos dentro da sala mas o frio estava demais entao fomos para o chão do lado de fora, tudo forrado com palha de cereais, o vento vai depositando esta palha em toda a região, ela tem o chão amarelo. A idéia é de compartilhar experiencias então mostro algumas bobagens que levei pra usar, cachecois, luvas e o maltese, elas nunca viram um chullo como o maltese, ficam encantadas e querem aprender como eu faço isso. Quando abri um porta agulhas, juro que só com algumas poucas, elas ficaram em delirio, no povoado é complicado compra-las. O kit Denise vcs podem imaginar, queriam pegar, usar, tocar, não imaginavam que pudesse existir uma agulha circular que nao prenda.
Elas tecem animais para os dedos, como se fosse marionetes, eles usam pra contar histórias para as crianças e também como moeda de troca na feira local, como o dinheiro é dificil entao aos domingos as mulheres vão para o mercado onde trocam seus trabalhos por alimentos, fios e outras coisas. Elas tem carneiros, que são os animais de estimação, como os nossos cães ou gatos, servem pra dar a lã e acredito que algum leite,  pq como a região é muito seca não existem vacas neste povoado, tem poucos porcos, galinhas pra ovos e consumo e só isto.
Chega a hora do almoço, meio dia, descemos do Centro Comunitário e vamos para a casa da Dona Juana, 5 senhoras da comunidade são convidadas para o almoço, mas só 3 se sentam a mesa e nao me pergunte o pq! Coisa da hierarquia eu acho, ela nos espera com uma sopa com frango e quinua, deliciosaaaaaaaaaaaaaaaa, tomei 2 pratos, como prato principal - arroz, batata e peixe, a comida tem outro sabor, ou tem sabor de comida, tudo é plantado aqui e nao tem quimica ou irrigação, quem manda no ciclo de agricultura é a constelação a llama, qdo ela aparece se planta, qdo ela some no céu a terra descansa. Respeito aos ciclos naturais da terra, vivem de acordo com a natureza, nao destroem a sua terra, fonte de vida e energia.

O almoço segue com um monte de risadas, acho que de mim, devem achar que somos tão exóticos quanto os achamos.
Sou convidada a ir até um mirante para continuar com o tricot, ele fica atraz da casa, uma subida terrivel pra quem esta sofrendo de mal de altura, me arrasto morro acima e levo um susto, tinha uma lona pra nos proteger do sol e chão forrado e um banco pra eu sentar, me dei conta de como a minha visita era importante, eu não deveria me sentar no chão, mas imagina fui direto pro chão.


A tarde foi passando e fui tentando conversar com elas, uma complicação, começam em castellano e terminam em quechua, ai complica tudo e não entendo nada, temos que começar a conversa novamente.

As crianças vão chegando da escola e se juntando ao grupo, uma das meninas nunca tinha visto unha pintada, pegou a minha mão e ficou passando os dedos sobre as minhas unhas,  ela estava maravilhada com as unhas pintadas, que era aquilo? A tarde vai passando, a temperatura vai caindo, o vento dos Andes chega implacavel e gelado, o jeito é recolher tudo e ir pra casa, esta noie vai ter um festa, que eles chamam de carnaval, sou avisada que vou vestir um pollera, roupa tipica, fico imaginando como vou ficar. A vida aqui é regrada, escureceu hora de jantar - sopa de frango, arroz, batata, ovo e mate de coca, hj estamos sem luz, ninguem sabe quando vai voltar, me contam como é comum acontecer isto, até parece que estamos em São Paulo! Janto na cozinha da casa, esta frio, muito frio, o fogão a lenha me vai me esquentando. Finalmente a luz volta e vamos a fiesta. sou paramentada com direito a chapéu e um filho nas costas, fiz questao do filho. Uma fogueira é acessa no patio interno da casa, o pai pega um tambor enorme, um dos filhos uma flauta andina e começam a tocar um música lenta, repetitiva, cadenciada, quase um mantra, as mulheres dançam em volta de fogueira com passos e gestos ritimados e lá vou eu pra dança.
Vestida cheia de roupas e saias com meu filho nas costas acho que ter vontade de usar el bano, complicação a vista, eu nao tinha lanterna e nem idéia de como iria usar el bano com tanta roupa, tacaram-me uma vela na mão e lá fui eu tentar. Dei meia dúzia de passos fora da  casa escorreguei nos pedregulhos e da-lhe chão com direito a pé torcido, uma dor terrivel, penso que me ferrei, me ajeito, respiro e levanto para ir até el bano, sei lá como consegui usar a casinha, volto e notam que estou sem o meu filho, tadinho se perdeu na queda, um dos filhos foi procurar a criança. O pé doia muito, mas tinha uma festa pra mim, então o jeito era dançar, fui
ao quarto peguei uma faixa elastica e tasquei no tornozelo, um anti inflamatório e vamos bailar. Este momento foi crucial, com dor, sem médico, sozinha, o jeito era nao pensar, que vontade de ligar pra casa ou ter alguem comigo! me senti sozinha tinha que me controlar. Dancei em volta da fogueira e me senti num ritual primitivo de alguma forma aquela dança era meio ritual, eles chamam de carnaval, mas acho que fui enrolada, me senti conectada com os deuses andinos, a dor passou. Hora de ir pra cama, afinal é tarde, acho que 9 da noite, amanhã cedo vou pra Taquile. 

Quem quiser ver o filme - As imagens da brincadeira estão no link abaixo

que venha aqui em casa, nem imagino como se coloca aqui.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Dia 1

23 de Agosto 2009 - domingo Península de Chucuito - Povoado de Karina


Manhã tumultuada, guia esperando no hotel para irmos à Karina, mas o vicio me leva pra Juliaca, 1 hora de carro, eu tinha que ir comprar lã, não teria outra oportunidade pra fazer isso com calma.
Eles vem me pegar no Hotel em Puno, demoram a chegar, é o pessoal de uma cooperativa de fiadeiras, toda lã artesanal no Peru, sai dessas cooperativas. 

São ótimos me mostram todo o processo, conclusão vou embora deixando comprados 36 quilos de lã. acho que vou me ferrar na alfandega,
vão me entregar em Lima, no meu agente de viagem, ele não foi avisado ainda, mas era agora ou não iria fazer esta compra.

Saímos da cooperativa, me deixam em um ponto de Van, 5 Soles ate Puno, o carro vai cheio, estranham pq sou estrangeira, este não é um meio de transporte comum para quem vem de fora.
O guia vai junto ou eu não saberia voltar de van, e Puno vamos ao mercado pra algumas compras fundamentais:  
  • arroz
  • café
  • açúcar
  • papel higiênico
e mais alguns mantimentos para oferecer para a dona da casa, vamos para uma comunidade rural, os transportes públicos não chegam até lá então vamos de táxi, 120 soles ( 80 reais ) alguma coisa como hora e meia de carro, o asfalto vai acabando e nós vamos subindo e descendo por estradas de terra, tudo muito seco e precário, incrível ver a beleza e imaginar a precariedade da vida neste lugar, levo tb 2 cones de lã para oferecer as senhoras da comunidade.
O guia adorou conhecer o lugar, como ele tem contato com as comunidades viu a possibilidade de mais uma fonte de renda, ele deve ganhar uns 10 dolares por dia, no máximo! Um garçon ganha
0,30 centavos de dólar ao dia.

O táxi para, o ar e puro estamos numa altitude de 3.800 metros, ainda não deu tempo de me adaptar a altura, andar é complicado e como estamos no Peru tem que subir sempre, aqui o Titicaca é limpo, imenso e azul, no sol faz calor, na sombra frio.
Chega a hora do almoço, dona Juana minha anfitriã serve, mas não se senta à mesa, ela come no chão com a panela ao lado, vai servindo as pessoas, esse é o costume, mas como em terra estranha a gente segue o costume, ficou bem quieta.






Estamos à beira do Titicada, o lado fica cerca de 500 metros da casa, majestoso, azul profundo, imponente.
Seu ruído impera é como se estivessemos à beira mar. A plantação é de subsistencia com rodizio de 3 anos, começam pela batata e vão para os cereais, depois a terra descansa por 3 anos, não há irrigação e como é época de seca tudo esta amarelo.
A tarde vai caindo e eu posso assistir o por do sol no lago, as cores são lindas, fico encantada. O dono da casa adora do maltese hat que eu teci e levei pra me abrigar do frio, a noite vai gear, o vento andino começa a anunciar a noite que me espera.

Seis horas da tarde, hora do jantar, sopa de aveia , arroz, batata, ovo, mate de coca, este vai ser o cardápio de vários dias, do café da manha, sem café ao jantar, a comida tem um sabor otimo, eu estou cansada, o soroche me judia.



Sete horas da noite, hora de dormir! Amanhã é o dia que vão me ensinar a tecer desenhos, estou ansiosa. a comida não tem agrotoxicos, tudo tem um gosto e um cheiro muito bom.

Uma curiosidade, eles falam em quechua, as vezes começam a falar em castelhano e terminam em quechua, fico sem entender nada.

Hora de tomar banho, hora crucial , uma garrafa térmica e uma bacia de agua fria, eu olho pra bacia a bacia olha pra mim.... impasse, como vou fazer isso? Levei lencinhos pra bunda de criança, passo no
corpo, sinto que não vai dar pra ficar só com isso, misturo a água, molho uma ponta de uma toalha de rosto, guardada no fundo da mochila, passo no corpo, com o outro lado me enxugo.


Um detalhe - o banheiro - uma casinha de zinco com um buraco de cimento no chão, super limpo, mas complicado de usar, para a noite um pinico!
O clima é bem seco, então não dá pra ficar suada, o que é menos mal.








Um sentimento me acompanha, gostaria que as meninas estivessem aqui desfrutando desta experiência, acho que vcs iriam adorar. Pra mim um momento de reflexão, eles vivem com o mínimo e me parecem bem felizes!
Amanhã pela manhã vamos tricotar!