Dia 3 - 25 de Agosto 2009
Peninsula de Chucuito - Do Povoado de Karina para Taquile ( no meio do Titicaca )A noite foi longa e gelada, meu pé doi, esta latejando. Em uma hora qq da manha alguem entra en mi hospedaje acende a luz e fala alguma coisa, nao entendi nada, pedi para descansar mais um pouco, tinhamos um passeio de barco programado até uma pedra que tem um portal, eu só tenho vontade de dormir. Mais tarde um pouco
- 7 horas da manhã - entram novamente e acendem a luz, aqui funciona assim, eles vão entrando sem bater, acho estranho tanta agitaçao e me levanto, pedindo pra voltar pra cama, mas nao tem jeito, almoço meu café da manhã e aviso que nao quero ir fazer o passeio, ai fico sabendo o pq da agitaçao na casa, durante a noite a irma da dona Juana faleceu, todo mundo agitado, o pai foi ver os preparativos para o funeral, hj é o dia em que vou pra Taquile, que constrangimento, alguem da familia teria que me levar pra tomar a lancha, fico pensando o que vou fazer, resolvo avisar que podem pedir pra outra pessoa me levar até o ponto de encontro, desde que ela saiba onde é nao tem problema, foi o que eu imaginei
- 8 horas da manhã - dou pesames coloco a mochila nas costas, bolsa a tiracolo, pareço uma mula, mas como é só descida tudo fica mais facil. Depois de uma caminhada de uns 2km chegamos no embarcadeiro, o rapaz ( 15 anos talvez ) que me acompanha pega o barco, encosta e me ajuda a subir, da-lhe a remar no meio do lago e eu me sentindo no meio do nada... talvez 40 minutos a 1 hora depois ele para e se senta, pergunto - cade o cais onde vou pegar a lancha?
O cais não existe - vou mudar do barco para a lancha no meio do lago.
O que me restou foi uma respiração profunda.
- 2 horas depois - as lanchas começam a passar mas nenhuma para, começo a ficar mais preocupada, tenho sede, o pé continua a doer, mas o jeito é esperar.
- 1 hora depois - já senti a temperatura do lago, vi patos nadando e um monte de lanchas passando, o menino me olha e diz que acha que a lancha nao vai chegar, momento de completo pavor, ali no meio do nada, a familia nao iria estar em casa, eu nao tinha como voltar.
Parei, respirei, pensei na tela azul do pc, ou na tela azul da vida ( crash ) olhei pro fundo do barco procurando alguma coisa com que eu pudesse sinalizar, perguntei se havia uma policia no lago, nao havia esta possibilidade, o único recurso eram 2 pedaços de pau e um trapo vermelho, nao tenho dúvida e nem outra opção, pego um pau amarrro o trapo, pego o outro, levanto no barco, morrendo de medo de cair, começo a sinalizar com os braços levantados, as lanchas continuam passando sem parar, grito para as lanchas que fui esquecida, help me, rescue, nada adianta, estou com muito medo sem saber o que fazer se alguem não resolver parar, o celular nao funciona, nao tem fone no povoado, nao tem taxi.
Continuo a agitar os braços, uma lancha diminui a velocidade e para, explico rapidamente que fui esquecida no lago e que minha embarcação não chegou, jogo a mochila, a bolsa e dou um jeito rápido de entrar na lancha, antes que resolvam me deixar por ali, quem me atende pede que eu fique sentada e calma. A lancha finalmente parte, estou querendo matar quem acertou o ponto de encontro!
Como deixam uma pessoa no meio do lago, quem fez este acerto foi a agência www.capachica.com. que diga-se de passagem até hj nao responde aos meus mails, estou esperando até segunda - feira e vou fazer uma reclamação formal ao promperu.
Já perdi a noção do tempo, tenho mais 3 horas na lancha até a ilha. Finalmente avistamos a ilha, podemos chegar por 2 lados, o porto principal onde só temos que subir 530 degraus, bem altos, e pelo outro porto, onde em vez de degraus temos uma rampa sem fim, sei o nome de quem devo encontrar, Alipio - alcaide rural da ilha, não deve ser complicado. O capitão me fala pra ir até a praça central e pedir informação, deve ser fácil encontra-lo.
A lancha atraca e creiam que o desembarque é feito com os passageiros passando por cima dos barcos já atracados, uma coisa um tanto confusa e perigosa. Consigo passar por esta prova de de sobe e desce em barco atracado, eles se movimentam e os passageiros e tripulação vão tentando ajudar uns aos outros, meu medo ainda nao passou totalmente, a irritação continua. Dou uma olhada em volta, tipo reconhecimento do local da guerra, vejo uma cabine que vende os tickets de entrada na ilha é ai mesmo que eu vou parar e ver se localizo o Alipio, foi mole, perguntei por ele e expliquei o que havia acontecido, imediatamente um senhor saca um Nextel e o chama. Todas as embarcaçoes já haviam chegado e o Alipio tb estava apavorado pq eu não fui encontrada no local onde deveria estar, ele pede que eu vá até a praça central, estou numa altitude de 4 mil metros, tenho que subir muito até a praça, olho pra mochila ela olha pra mim ... falo com o senhor que não tenho condições de subir com a minha tralha pessoal, uma vergonha alguem que não consegue carregar a sua pp bagagem, sempre achei isto horrivel, mas não tem jeito, nem tento. Sou orientada a deixar a mochila que depois alguem vem pegar. Impressionante como esta atitude mudou o meu estado de espirito, me senti protegida, que o pesadelo tinha acabado.
Da-lhe subir, a respiração falta, o coraçao dispara, paro descanso continuo a subida, não existia na minha cabeça a possibilidade de não conseguir, turistas que desembarcaram comigo perguntam como estou e quem vou encontrar, a subida segue ingrata e ingreme.
Derrepente vejo um homem pequeno, magro vestido de negro, ele fala com turistas que apontam pra mim, era o Alipio, me senti salva!
Ele chega dizendo como ficou preocupado qdo eu nao apareci no porto principal, já tinha ligado pra agência e eles nao sabiam de mim. Ele pede que eu descanse e vai buscar a minha mochila, vai correndo e volta correndo, eta pulmão de aço! a subida continua, eu peço coca pra mascar, mas ela não me ajuda muito, o cansaço ta enorme... lembrei de uma planta de um guia me deu em outra viagem ao Peru, nao sei o nome, descrevi pra ele, é a munha que ele olha em volta e vem com um punhado, ela abre a respiração, continuamos andando. Naquele momento eu achei que a caminhada não iria ter fim, ai que vontade de uma mula. Ele abre um portão de pedras ou seja um montinho de pedras empilhadas, passamos e chegamos na sua hospedaria.
Pouco tempo depois me chamaram, hora do almoço, que sensação boa, comida pra reconfortar a alma, agua, mate de coca, tudo o que eu queria naquele momento. A hospedagem é o paraiso, um lugar lindo, florido, organizado, aqui tem até banheiros com vaso sanitário de louça e pia com agua corrente pra lavar as mãos. Eles tem hospedagem pra 20 pessoas, tudo muito legal e a comida é ótima - 20 soles por dia - 14 reais. A tarde durmo um pouco, acordo e vou pra fora tomar sol, turistas italianos passam voltando de um passeio, já é hora do jantar. O dia vai caindo e o lago escurecendo, estou bem agora, a familia é muito legal, sentam a mesa, só os homens, um toca flauta andina no jantar, a mágica voltou, amanhã o programa é passar o dia aprendendo a tecer, tingir e fiar, estou animada, aqui só os homens podem fazer tricot, aprendem na escola a partir dos 8 anos de idade, eles convesam, andam fazendo tricot e é claro que pra deixar a gente morrendo de inveja com desenhos. Uma curiosidade - a agulha de uma lado é de crochet a outra ponta de trico, tecem tudo com 5 agulhas finissimas acho que 1,5 mm.
Uma estória pra contar pros meus netos, O Resgate no Titicaca
amanhã tem mais
5 comentários:
Rubia, que relato emocionante!!! Carregadinho de sentimentos e sensações. Achei espetacular a sua viagem. Fez um bem inestimável pra sua alma. Todas nós deveríamos fazer uma viagem como essas. Uma viagem que virasse nosso mundo de cabeça pra baixo. Mas, estamos vivendo a experiência junto com você. Obrigada pela oportunidade!!!
Beijos emocionados
Sonia B
Nossa rubia!!!
Que paisagens lindas menina.................
Com certeza vc esteve perto do céu!
Toda viagem tem que ter um susto,com certeza............bjs so
Ave! Rúbia estou cansada só de imaginar, e te garanto adoraria ver o lance com as lãs ver os tricoteiros , mas aqui bem pertinho de mim tudo é muito lindo, mas com certeza eu não aguentaria fazer um passeio destes.
Rú, fiquei exausta só de ler. Imagino seu desespero, 'abandonada' no Titicaca!
Estou aguardando ansiosa os próximos capítulos!! bjs, e bom final de semana.
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